Esta semana, publiquei um artigo no qual abordei alguns dos problemas advindos do mau uso da internet. Hoje trago o filme brasileiro Aos Teus Olhos, de 2017, com direção de Carolina Jabor e estrelado por Daniel de Oliveira, Malu Galli e Marco Ricca.
A trama se passa, basicamente, num clube esportivo, mais precisamente nas aulas de natação ministradas pelo professor Rubens para crianças com idades entre oito e dez anos. É dia de competição entre as turmas, e Alex, um dos alunos de Rubens e cujos pais são separados, termina em segundo lugar. Apesar de ter alcançado uma excelente posição, o garoto se mostra tristonho, irritadiço e quieto. Na semana seguinte, o pai de Alex tira a diretora para uma conversa particular: seu filho alegara à mãe ter recebido um beijo do professor. A mãe, desesperada, desabafa em um grupo de conversas online – grupo este dos pais das crianças do clube – para alertá-los sobre o perigo que os alunos estavam correndo. Ela deixa claro para todos que Rubens é uma grande ameaça, e expõe que seu filho confessou que o beijo foi na boca. Com isso, há uma enorme comoção dos pais, que respondem de imediato: alguns se mostram indignados, apoiando a família a denunciar o professor; outros apresentam certa cautela, alegando que as crianças podem fantasiar algumas situações, distorcendo a realidade. Porém, a mãe faz novo alerta, desta vez através da comunidade online do clube, alertando todos os frequentadores do estabelecimento esportivo. Ela tem o apoio iminente de muitas pessoas, que compartilham seu depoimento.
O professor Rubens é apresentado como uma pessoa afetuosa para com seus alunos, cheio de atenção e carinho, incentivando-os a tornar seus desejos reais. A diretora, que o conhece há cinco anos, parece acreditar na inocência do funcionário, apoiando sua maneira de lidar com as crianças. No entanto, ela passa a sofrer pressões por parte dos pais dos alunos de todo o clube esportivo, e precisa, urgentemente, tomar alguma atitude diante a denúncia. O professor Rubens, por sua vez, vê seus gestos de carinho tornarem-se gestos de carícia, mas afirma não ter feito nada de errado ao garoto. Ele também passa a sofrer com as mais diversas acusações e a desconfiança de seus colegas de trabalho. Assim, toda a história segue com enfoque na pressão do professor diante a situação.
O filme é, em meu ver, bastante reflexivo, não apenas pela questão do compartilhamento de informações e a agilidade com que elas se espalham na internet, mas também a possíveis abusos que as crianças podem sofrer sem saber, ou suas fantasias diante suas experiências com família, amigos e professores. Vale aqui frisar que os adultos que fazem parte do dia-a-dia de crianças devem ter atenção redobrada para o comportamento infantil e procurar por intervenção profissional para qualquer mudança repentina. Porém, gostaria de voltar o olhar para o uso das redes sociais feito pela mãe.
Entende-se a preocupação que ela estava com toda a história. Todavia, hoje é comum – e, até mesmo, normal para muitas pessoas – compartilhar nas redes sociais as mais variadas situações que presenciamos ou vivemos, expondo, assim, casos muito delicados e íntimos a milhares de pessoas às quais não conhecemos. A mãe, neste caso, expôs algo que envolvia sua família e outras pessoas, como o professor e demais funcionários do clube. O que temos, atualmente, é uma aparente necessidade de expor não apenas a si mesmo, mas outros indivíduos. Com a facilidade da conectividade das redes sociais, isso se tornou instantâneo: pegou o celular, escreveu, enviou e pronto, é só aguardar até que a coisa cresça e tome proporções gigantescas.
Deixo uma singela reflexão: pense bem antes de compartilhar tudo o que aparece. Até onde vamos exibir nossos problemas tão íntimos ou acusar outras pessoas? A internet é um meio de comunicação muito poderoso, e depende de cada indivíduo dosar o uso desse poder.
Bom filme e até a próxima.
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Vamos, juntos, compartilhar e divulgar saúde mental!
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