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  • Foto do escritorRita Galindo

UMA PRESSÃO PERFECCIONISTA

"O perfeccionismo desmedido gera muitas emoções negativas que podem levar à depressão e transtornos ansiosos".

Existem pessoas que desejam fazer suas tarefas melhor, porque sabem que isso é possível. Porém, existem pessoas também que desejam fazer SEMPRE melhor, porque precisam ser sempre melhores.


O site Dicio (s.d.) diz que perfeccionismo é a “obsessão em realizar tudo com perfeição, com excelência, com o maior apuro possível; doutrina que afirma ser a busca da perfeição alcançada a partir de um modelo preestabelecido”. Ou seja, o perfeccionismo em si parece carregar alguma pressão para o indivíduo. No entanto, pode-se fazer alguma distinção entre o perfeccionismo sadio – isto é, aquele que engaja o sujeito a buscar melhorar seu desempenho sem o excesso da autocrítica – e o perfeccionismo exagerado, que leva ao adoecimento psicológico. É sobre este último que o artigo irá tratar.


Os perfeccionistas não reconhecem suas qualidades, habilidades e, especialmente, seus limites. Focam-se na busca da perfeição, o que pode tornar a aquisição de novos conhecimentos em algo penoso, desgastante e sem interesses verdadeiros, pois trabalham sempre para a superação descabida de suas próprias expectativas. Assim, focar-se o tempo todo na própria performance interfere na aprendizagem de tarefas e pode reduzir a criatividade e inovação do indivíduo (MARANO, 2008). Além disso, o perfeccionismo desmedido gera muitas emoções negativas que podem levar à depressão e transtornos ansiosos.


Imagine uma pessoa altamente perfeccionista se frustrando com sua própria performance. É muito provável que, tendo instabilidade emocional, ela internalize críticas externas e, principalmente, internas como verdades e não consegue seguir adiante. Logo, a autopercepção negativa é a grande agente do perfeccionismo. É dela que surgem preocupações exacerbadas de possíveis julgamentos externos. Desta forma, o perfeccionista, geralmente, apresenta:


  • Preocupação com os próprios erros, interpretando-os como provenientes do fracasso;

  • Padrões e expectativas pessoais elevados;

  • Dúvida sobre sua capacidade de realizar tarefas e atividades;

  • Tendência em salientar a organização de maneira exagerada.


A pessoa perfeccionista alimenta incertezas sobre seu desempenho e qualidade de suas ações, entendendo que suas tarefas nunca estão completamente finalizadas, por mais que todos à sua volta digam o contrário. É uma autocobrança exacerbada que pode levar a transtornos como ansiedade e compulsão obsessiva (MARANO, 2008). Somando a isto, quando o perfeccionista “fracassa”, ele entende que as pessoas à sua volta perdem o interesse por ele, precisando fazer suas tarefas melhor ou compensar, de alguma forma, esse fracasso.


No entanto, o perfil perfeccionista não surge de uma hora para outra no sujeito. O professor americano Randy O. Frost destaca em seus estudos que, muitas vezes, o perfeccionismo pode estar ligado a cobranças excessivas de pais – ou, até mesmo, alguém importante para a criança – muito exigentes e críticos que não admitem ou não conseguem gerenciar os erros dos filhos (MARANO, 2008). A criança, então, internaliza a crença de ser incompetente por não receber a aprovação dos pais ou da figura importante, e se desenvolve a partir de uma hipercrítica para consigo mesma, alimentando o pensamento de que, para ter a aprovação dos outros, precisa ser sempre muito boa em tudo o que faz.


De alguma maneira, esses pais e / ou figuras de importância controlam as crianças psicologicamente – e nem sempre se dão conta disso. A fala verbal traz um peso grande: críticas, comentários que indicam decepção, comparações, mas o comportamento do adulto pode falar muito mais do que mil palavras: suspiros profundos, sobrancelhas erguidas, boca remexida, silêncio estratégico. Ou seja, o comportamento dessa pessoa indica sua insatisfação na performance da criança. Esses pais / figuras criam expectativas altas demais e exigem que a criança as alcancem (MARANO, 2008).


Outra forma de se controlar o psicológico dos filhos é a própria neurose dos pais: a ansiedade da separação. Conforme crescem e se desenvolvem, os filhos vão adquirindo autonomia, que, para alguns pais, pode ser uma grande ameaça. Assim, pais inseguros emocionalmente podem sabotar o desenvolvimento dos filhos, provocando a culpa destes com intuito inconsciente de mantê-los próximos e dependentes deles. Isso pode decorrer de relações adultas insatisfatórias e não saudáveis que, sem o devido tratamento e elaboração, podem provocar reações psicológicas negativas nas crianças (MARANO, 2008).


É possível dizer, portanto, que há muito mais necessidades particulares dos pais e / ou figuras importantes a serem elaboradas do que na própria criança. Portanto, reconhecer, aceitar e procurar por ajuda profissional para lidar com estas demandas internas podem auxiliar tanto o adulto quanto a criança. Além disso, rever e repensar a forma de lidar com as entregas da criança e o perfeccionismo são mudanças importantes.

Ao perceber que está sendo muito exigente da criança e no intuito de mudar seu comportamento para não prejudicar o psicológico da criança, o adulto pode tomar novas atitudes para elogiar e criticar o desempenho dos pequenos.


COMO FAZER ELOGIOS

  • Focar no processo e no esforço é muito mais significativo do que o resultado ou talento em si;

  • Elogiar a inteligência da criança pode desanima-la quando ela não obtiver o mesmo desempenho. Por isso, substituir frases como “Você é muito inteligente” por “O que mais lhe interessou neste trabalho?” incentiva a criança a não travar diante dificuldades ou se cobrar excessivamente quando não tiver os mesmos resultados sempre;

  • Recompensas materiais nem sempre motivam a criança. Assim, parabenizar e questionar a criança sobre o que funcionou em determinada resolução instigam o pensar crítico e autoconhecimento.


COMO CRITICAR

  • Nunca comparar posições como “Segundo lugar não é bom”. Ao invés de expor frases críticas, é melhor fornecer reflexões da própria criança sobre sua performance e como fazer diferente da próxima vez;

  • Demonstrar empatia como “Este é um desafio bastante difícil, não é?” e incentiva-la a pensar em possíveis soluções.


COMO MODIFICAR OS PADRÕES PERFECCIONISTAS

O psiquiatra Dimitrios Tsatiris (2021) expõe algumas estratégicas que ajudam a reformular algumas crenças perfeccionistas, mas demandam aceitação e empenho para quem percebe seu perfeccionismo como algo não saudável e sem equilíbrio.

  • Reformule o perfeccionismo

Uma característica da pessoa perfeccionista é criar expectativas elevadas e padrões pessoais muito altos que podem levar a uma falsa ideia de superpotência. Redefinir o perfeccionismo ao reformular as próprias expectativas e administrando a frustração é uma estratégia importante para a mudança de algumas crenças;

  • Reformule o pensamento

A perfeição nunca poderá ser alcançada, pois o que é perfeito para um indivíduo pode não ser para outro. Isso torna as relações diversificadas. Compreender e aceitar isso leva à mudança do pensamento de sempre se buscar a perfeição. Logo, se não há perfeição preestabelecida, executar as tarefas com excelência, empenho e dedicação torna-se muito mais leve e sem pressões.

  • Reformule o fracasso

O perfeccionista, geralmente, não suporta suas falhas. Aceitar os erros e aprender a usá-los a favor é uma oportunidade para o aprendizado e crescimento. Encontrar novos caminhos, diferentes formas de resolver um problema ou dar um passo para trás e rever alguns conceitos propiciam reformular a ideia de fracasso.


Como pode-se perceber, tomar expectativas irreais como medidas para serem alcançadas são muito prejudiciais e não ajudam no desempenho e performance do indivíduo. Perceber que há algo na ação que pode ser melhorado, mas reconhecer as habilidades e qualidades pessoais são diferentes do perfeccionismo que cega, cristaliza e congela o indivíduo. Lembre-se: você é perfeito do seu jeito, acertando, errando e se reajustando onde for necessário.

 

REFERÊNCIAS


DICIO. Perfeccionismo. Dicionário online de português. S.d. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/perfeccionismo/>. Acesso em: 16 set. 2021.


MARANO, H. E. Pitfalls of perfectionism. Psychology Today. 2008. Disponível em: <https://www.psychologytoday.com/us/articles/200803/pitfalls-perfectionism>. Acesso em: 12 set. 2021.


TSATIRIS, D. Three pratical tips to overcome perfectionism. Psychology Today. 2021. Disponível em: <https://www.psychologytoday.com/us/blog/anxiety-in-high-achievers/202109/three-practical-tips-overcome-perfectionism>. Acesso em: 12 set. 2021.

 

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